E Assim Começaram As Maravilhas
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Ele abriu os olhos, olhando a sua volta, agora não via mais a multidão furiosa. Ele estava em algum tipo de bar, ouvia a musica linda de uma banda se apresentando, sentia o cheiro de bebidas que nunca imaginava que poderiam existir, mas mesmo assim, seu coração quase pulava pela boca.

Notou, em alguns instantes, que era o único humano ali. A banda era feita de mariposas gigantes, os garçons eram figuras humanoides negras com dentes afiados. Conseguia ver todo tipo de bizarrice há sua volta. Muito assustado, ele começou a rastejar para trás, indo se esconder em baixo de uma das mesas, quando alguém lhe ofereceu a mão e ele começou a se lembrar do que havia acontecido.

Ele era, há algumas horas, um músico na velha Europa. Tocava um violino como ninguém, isso depois de muito tempo de prática. Começou por volta dos 7 anos de idade e aos 30 anos era um completo mestre no assunto. Conseguia tocar as notas mais belas, lindas de chorar. Suas melodias próprias eram do mesmo calibre. Com todo esse talento era claro que não não passaria despercebido. O mundo o abraçou e ele o abraçou de volta. Fazia shows por todos os lugares, era seu sonho, um sonho realizado.

Isso foi correndo bem até um fatídico incidente. Em uma bela noite de sábado com chuva, ele iria se apresentar para uma grande audiência. Começou e algo aconteceu, não, não era sua melodia, ela estava perfeita. Na realidade, ela estava melhor, o músico passou horas e mais se aperfeiçoando para aquele dia, ele queria que aquela fosse sua melhor apresentação.

Foi quando aconteceu. Sua melodia era algo indescritível e, como magica, os convidados começaram a levitar no ar. Muitos ficaram assustados outros pensavam que estavam alucinando. Foi uma confusão tremenda, quando percebeu, o músico parou de tocar e as pessoas caíram do ar.

Saiu às pressas do lugar, em pouco tempo, uma multidão estava atrás dele. "Bruxo! Bruxo! Bruxo!" Eles gritavam, os guardas da cidade rapidamente o cercaram na rua, ele, desesperado, rastejou até o canto de um beco e bem quando lhe pegariam, ele caiu para dentro do chão, caiu para fora da realidade. Isso o levou até o bar.

Olhando para a mão, ele viu uma figura vagamente feminina, ele não conseguia dizer praticamente nada sobre a figura, como se ela fosse indefinível.

"Que- Quem é você? O que é esse lugar?" Ele disse com a voz tremula. Não conseguia processar aquela situação.

"Se acalme, por favor, querido músico." A sua voz era calma e soava como uma musica. "Essa é minha casa, o Nível da Orquestra, você está seguro aqui. Vi você sendo perseguido pela multidão, não pude deixar você para morrer. Você é um talento que só aparece uma vez a cada milênio."

"Como assim?" A cada palavra a confusão aumentava.

"Venha, por favor." Ela novamente estendeu a mão. "Tudo vai fazer sentido."

Ele obedeceu, o que mais poderia fazer? Seguiu pelo bar. A cada minuto aquele lugar ficava mais estranho, via vários monstros se portando como gente. Eles bebiam, cantavam e dançavam.

"O que são essas coisas?"

"Não os chame de 'coisas', eles são gente também. Eles são apenas, hm, diferentes."

"De- desculpa."

Eles seguiram pelo local, conforme mais passavam, mais ele notava que não precisaria ter medo, nenhum daqueles seres reagiu a sua presença. Ao subir um lance de escadas, viu pinturas começarem a aparecer nas paredes. Eram pinturas dos grandes mestres, pessoas que nem sonhava em se igualar. Se aproximou das pinturas e começou a olhar.

"Você não é muito diferente deles, sabia?" Disse a figura.

"Eu? Não, não, eu-"

"Não, você não é 'inferior' nem outro adjetivo negativo que possa pensar. É por isso que eu te salvei. Não é estranho como sua musica fez as pessoas voarem?"

"Eu-"

"Pois é. Muito estranho. Você tem um talento especial, muito especial para ser justa. Agora, que estamos aqui, e você pode vê-los, Mozart, Bach, Beethoven, Vivaldi e tantos outros, alguns que nem existiram ainda, outros esquecidos pelo tempo, nós podemos começar. Eu tenho um pedido, não… pedido não é a palavra certa… Súplica? Isso, essa me parece uma boa palavra."

"O que você quer de mim afinal?"

"Quero que toque seu violino, simples assim."

"Para você?"

"Não, não. Quero que toque para o meu mundo. Deixe-me te apresentar a ele." A entidade fez um sinal e ele seguiu. Foram a uma parte onde havia um "mapa". O dito mapa não fazia sentido nenhum, mudava de formas impossíveis e seus trajetos eram estranhos, no canto esquerdo do mapa, uma pequena escritura dizia "Os Backrooms". "Chamamos seu mundo de Frontrooms, ele não se parece nada com o que temos aqui."

"Eu ainda não entendi, porque eu?"

"Meu mundo é um caos de andares desorganizados habitados por monstros. Um horror comparado as belezas que temos aqui. E eu preciso de você para resolver o que nenhum dos 'grandes mestres' que fala conseguiram resolver. Espalhar a harmonia"

"Espera, eles estiveram aqui?"

"Sim, e todos me decepcionaram."

"Porque eu seria diferente?"

"Você é. Sua musica foi tão incrível essa noite que transcendeu as leis da natureza."

"E mesmo que eu consiga 'espalhar a harmonia' o que eu consigo com isso?"

"Você volta para o 'mundo real'."

"Okay, eu vou fazer isso sozinho?"

"Não, vá para os povoados e anuncie a sua missão. Alguns te chamarão de louco, outros começaram a te seguir."

"Eu…"

"Se você não quiser, pode tentar voltar por conta própria"

A entidade se dirige até uma porta e a abre, com figuras grotescas e horríveis aparecendo do outro lado, estendendo suas mãos em direção ao violinista.

"Não sinto que tenho muita escolha aqui. Eu acho que, realmente, só tenho uma. Eu vou tentar."

A entidade o mostrou uma porta e ele se dirigiu a porta indicada com certa dúvida, mas com sua única certeza estampada no coração. De que sairia vivo daquele lugar.


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